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DEPOIMENTOS

Maria Ivonete Coutinho da Silva  ,

Coordenadora do Campus Universitário de Altamira.

Dezembro de 2019

Rio da minha aldeia.

Oh! Rio da minha aldeia, que não cerceiem teu caminhar.

Rio de muitas vidas, de grande fauna, carrega n’alma o dissabor.

Pois tuas águas verdes e serenas, agora em cenas, quase terror.

Nas tuas vertentes com tanta gente a trabalhar.

Passam as máquinas, criam caminhos...sem navegar.

Buscam as luzes que se anunciam, a energia não nuclear.

São tuas águas tão desejadas, pelos grilhões do capital.

É tua força mais almejada, ensimesmada nos teus canais.

Querem a fúria, a máxima! Querem a potência!

Em tua crença de produzir, a energia que bem podia...

Ser de outras formas, ser de outra gente que te sorrir.

É gente simples quase in natura, que ainda procura um outro lar

As suas redes e as suas tendas, não mais se encontram sob o luar

Quando desarmadas, desavisadas, não entenderam nada e o porquê

As tantas lutas e quantas disputas, bens e interesses sem o Saber.

Sabedoria que vem de ti, das tuas águas e dos teus entornos

Que fazem histórias, promovem vidas e acalentam dores!

Curam as feridas, demandam crenças, trazem esperanças!

Sendo criança, que sem ganância ainda se espera por um porvir.

Por acreditar que ainda há sonhos, que só existem, no teu existir.

Oh Xingu! Rio da minha aldeia.

ALDICE FREITAS,

 Ex-moradora da Volta Grande do Xingu

“Pra nós essa sensação é de velório. É a mesma coisa dum velório tá saindo pro cemitério. É a mesma sensação que a gente tá sentindo hoje. Saber que nós vamos sair daqui e não ter esperança de voltar pra cá. Então a sensação é triste mesmo, é lamentável. E é uma coisa assim... a gente não quer... Nós já tivemos oportunidade de vender essa terra, mas nunca quisemos. E agora a gente está sendo obrigado a vender que é uma venda forçada, que você tá vendendo uma coisa que você não quer. Pra nós é forçado. Ou tu vende ou você sai no prejuízo."

ALDICE FREITAS,

Ex-moradora da Volta Grande

do Xingu

"E é uma coisa assim... a gente não quer... Nós já tivemos oportunidade de vender essa terra, mas nunca quisemos. E agora a gente está sendo obrigado a vender que é uma venda forçada, que você tá vendendo uma coisa que você não quer. Pra nós é forçado. Pra nós essa sensação é de velório. É a mesma coisa dum velório tá saindo pro cemitério."

Confira o depoimento aqui

ARMANDO BALÃO

Ex-morador da Volta Grande

do Xingu

"Rapaz, aqui mudou muito. Porque aqui era tudo cheio de gente..., num tem mais ninguém... Só tem esse trechozinho  ali do Alexandre até o Laurindo o resto foi tudo embora. Isso aqui de primeiro era animado, tempo que eu morava aí.  Agora...  ficou uma solidão."

Confira o depoimento aqui

Confira o depoimento aqui

ANTONIA MELO,

Líder do movimento

"Xingu vivo para sempre". 

 

"O início dessa história de resistência dos povos do Xingu iniciou um pouco antes de 1989, logo depois que o governo da Ditadura Militar já construía a Hidrelétrica de Tucuruí. Nesse mesmo tempo, de 1970 a 1980, o governo mandou estudar também o rio Xingu, sobre a viabilidade de construir hidrelétricas no rio Xingu. Então, na década de 1980, quando os movimentos sociais da época souberam que o governo estava aqui com a então empresa chamada SENEC, que existe até hoje, fazendo estudos na Volta Grande do Xingu, na bacia aqui do médio Xingu, os movimentos sociais da época descobriram essa vontade do governo de também fazer as barragens no Xingu e começaram a se organizar. [...] Nessa época, já existia o movimento dos atingidos por barragem que teve início em Tucuruí. Então os movimentos aqui, os sindicatos, os trabalhadores rurais iniciaram um projeto de organização chamado GRACOX, que significa Grupo dos Atingidos pela Barragem do Rio Xingu. [...] Esse grupo andou por vários lugares do Brasil. [...] Nesse sentido, em 1989, a Comissão dos Atingidos pelas Barragens do Rio Xingu, e depois os indígenas, tiveram noticias de que o governo queria construir um complexo de barragens no rio Xingu. [...] Então os Caiapó foram os primeiros povos a se organizar e organizaram aqui, em 1989, O 1ª Encontro dos Povos Indígenas do Xingu."

JOSÉ PAULO BALÃO,

Ex-morador da Volta Grande

do Xingu 

"Meu nome  é  José  Paulo,  moro  na  comunidade  de  Santa  Luzia.  Este aqui é o cemitério local da comunidade de Santa Luzia; essa daqui é a sepultura do meu irmão, essa aqui também, esses dois são meus avós paternos e naquele outro local ali, é meus primo, que como a Bete tava falando  sobre  o  remanejamento,  levar  eles  daqui,  segundo  a  Norte Energia  contratou  uma  firma  pra  remanejar  esses  cadáver  daqui  pro cemitério  jardim  lá  na  saída  de  Vitória,  em  Altamira.  Eles vão anunciar na “FM” na “RURAL” tentando localizar os familiares pra vim ver a retirada dos ossos pra levar pra esse cemitério Jardim, lá de  Altamira.   Eles já compraram o terreno.   Ainda não tem  dia marcado. Eles só vieram, fizeram um levantamento aqui do cemitério, em todo cemitério que vai ser atingido eles fizeram um levantamento aqui, no  Arroz Cru. Em várias ilhas aqui, tem cemitério e todos eles estão cadastrados com estas  placazinhas  que essa firma que a Norte Energia contratou, tá marcado esse cemitério todinho."

Confira o depoimento aqui

JOSÉ PAULO BALÃO,

Ex-morador da Volta Grande

do Xingu 

“O rio Xingu pra mim é um pai, é meu pai porque é ele que me dá  alimentação todo dia. O Xingu pra mim é um pai.”

Confira o depoimento aqui

Sr. Manoel,

Morador da Ilha da Fazenda

 

"[...] A gente tá deixando muita coisa, primeiro nossa história, eu nasci aqui. Meu umbigo foi cortado aqui, através de parteira. Nós temos o cemitério onde está os restos mortais dos nossos parentes e tudo isso vai ficar pra traz. Pra nós isso é triste ter que deixar eles aí. Tudo bem,é uma pedra são ossos, mas é o que a gente gosta. Eles estão ficando aí e a nossa história vai deixar de existir. Outro dia comentando com os meus irmãos, aqui lembrando a nossa infância, hoje a gente lembra porque alguma coisa faz a gente lembrar e se a gente sair daqui a gente vai esquecer disso. Quando nós perdemos nosso irmão a vontade foi de vender o lote e ir embora daqui. Mas como ele foi sepultado aqui a gente não quis deixar ele aqui. E agora a gente vai ter que deixar. Não é por querer e ele vai ficar aí pra traz e a gente não queria deixar, daqui a gente não queria sair. E existe uma história que eles vão retirar, e tá todo mundo quietinho, lá no seu lugar. E vamos ter que sair por causa desse projeto que diz que é progresso, que pra nós não tem nada de progresso, só destrói."

Socorro Arara

Reassentada em Área de Proteção Permanente - APP/Belo Monte, margem direita do Rio Xingu

 

"BOM DIA BETE, BOM DIA ALEXANDRE!


Eu estou gravando esse áudio aqui pra vocês pra dizer pra vocês o que nós estamo passando aqui no rio Xingu, com a seca, este ano. Hoje é 29 de outubro de 2020. E por conta dessa barragem de Belo Monte nós tivemos que sair de nossos habitat, de nossa terra, de nossa moradia, e a Norte Energia assentou nós em outra área, em outra terra. Só que nós estamos sofrendo muito e nós fomos reassentados numa área que é rural, longe! Com a moradia longe da beira do rio. E agora com essa seca, a nossa entrada, o nosso acesso com as canoas secou e nós estamo com as nossas embarcação presas, na beira do lago, aqui. E não é só eu e meu grupo familiar que estamo sofrendo essa situação, aqui. São muitos ribeirinhos que foram assentados pela Norte Energia, na área ribeirinha, em lugar de igarapé, igualmente eu aqui que é um acesso difícil, na época do verão... Então, quando foi pra eles assentarem nós, eles falaram que nós não ia ter problema com acesso, porque a água ia encher e nós ia ter acesso. E a gente acreditou. Acontece que nós vem sofrendo ao longo desses anos, esse problema. Quando chega no verão, seca e o nosso acesso fica difícil de andar com as canoas, pra exercer nosso trabalho de pescaria e se locomover pra ir na cidade... então eu estou mandando esse vídeo pra vocês aí, que é o pouco de trabalho de material que eu tenho gravado. Mas a gente tá colhendo mais; a gente tá pedindo pra que os nossos companheiro ribeirinho, pescador, possa tá gravando mais vídeo, tirando foto, pra que a gente possa mostrar pro mundo, pra todas as autoridades que a barragem de Belo Monte não é viável no rio Xingu porque ela só trabalha no inverno. Por que como que uma barragem dessa vai trabalhar num verão desse, sem água? Não tem água, pra trabalhar. Então, na nossa visão, nós, que somos nativos, nós somos uma nação de povos nativos do rio Xingu. Nós conhecemos esse rio. Nós sabemos que o nosso rio... ele tá morto, ele tá doente, ele tá muito mal. A agressão ambiental foi muito forte... então ele tá sofrendo muito e nós tamo sofrendo junto com ele. Nós já perdemos muito amigos nossos. Parentes que morreram, que não aguentaram esse sofrimento. Morreram de depressão e nós vivemos doentes também... nossas mentes, nosso coração vive doente por conta disso. Então, eu estou mostrando pra vocês, que a barragen de Belo Monte, pra nós aqui no rio Xingu, não é viável e quero dizer também que ela não é um fato consumado, pra nós aqui, porque as nossa condicionantes não foram cumpridas; nem pro pescador e nem pros ribeirinhos. Então, são condicionantes que hoje, ainda não saiu do papel e todas as autoridades e todos os governantes que nós pagamos muito caro (...) os salários deles com nossos impostos; nós somos contribuintes que pagam os impostos (...) de todas essas autoridades, né? E eles não estão nos vendo. Eles não tomam uma providência pra dá uma canetada pra suspender Belo Monte e tratar das nossas condicionantes, né? Indenização e reparação por conta do que nós sofremos muito... estamos sofrendo essa agressão ambiental. Nós estamos sofrendo essa agressão (...) os poderes públicos que não nos estão vendo. Estão nos jogando pro lixo. Não estão respeitando nossos direitos sociais e fundamentais que nós temos. Que regem na constituição brasileira. Então eu estou te mostrando esse pouco material que eu tenho de trabalho que nós conseguimos filmar ribeirinho, pescador, o sofrimento que nós tamo sofrendo aqui. E eu quero mostrar pro mundo como é que está nossa vida no rio Xingu... nós, indígenas ribeirinhos não aldeados, pescador que habita esse reservatório desse lago da barragem de Belo Monte. Nós estamos reassentados nessa localidade, por conta que o IBAMA nos tirou de dentro dessa área das ilhas e margens e depois reassentou novamente, entendeu? Dentro do lago que hoje a gente tá vendo que virou um MAR DE LAMA.


É isso que eu quero mostrar pra o mundo"

Confira aqui os áudios do depoimento.

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